Obesidade infantil pode adiantar em até 20 anos problemas cardiovasculares
A obesidade na infância e na adolescência pode antecipar de
10 a 20 anos a manifestação de doenças cardiovasculares. De acordo com
Dr. Raul Dias dos Santos, cardiologista e diretor da Unidade Clínica de
Dislipidemias do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da
FMUSP), ligado à Secretaria de Estado da Saúde, a criança acima do peso
ideal pode desenvolver síndrome metabólica. Nessa condição, a obesidade
acarreta, com o tempo, outras disfunções no organismo, como o aumento
progressivo da pressão arterial e dos níveis de triglicérides e de
glicose no sangue. "A síndrome é uma bomba-relógio que pode causar
precocemente o aparecimento de diabetes e de doenças do coração e dos
vasos", alerta o médico.
Segundo o cardiologista, devido ao
sedentarismo e à alimentação incorreta, a aceleração do processo de
aterosclerose já pode se manifestar em jovens na faixa etária dos 18
anos. A aterosclerose se caracteriza pelo envelhecimento natural de
vasos e de artérias do organismo. Quando exacerbada, ela pode levar à
obstrução dessas vias de passagem do sangue e, em conseqüência, a
infartos em órgãos importantes, como o coração e o cérebro. A
aterosclerose pode ser detectada nessa faixa etária pelo ultrassom de
carótidas. O exame identifica alterações precoces nessas artérias do
pescoço - indicador importante do desenvolvimento da doença
cardiovascular.
Por isso, é recomendável que, além de manter o
peso em níveis ideais, crianças a partir de 10 anos dosem o colesterol.
Com isso, pode-se identificar riscos e corrigir rumos, evitando, assim,
complicações futuras. "Em crianças que possuem histórico de doenças
cardíacas na família, a medição do colesterol deve ser feita logo aos
dois anos de idade", observa.
Para diminuir os riscos de doenças
cardiovasculares, uma alimentação saudável e a prática de exercícios
devem ser inseridas já na primeira infância. "É nessa fase que você deve
implantar hábitos saudáveis". O médico lembra, ainda, que a partir de
dois anos de idade, alguns alimentos como leite e queijo devem ser
reduzidos e trocados por gorduras vegetais.
A nutricionista do
Serviço de Nutrição e Dietética do Incor, Juliana Maldonado, ressalta
que a alimentação das crianças deve ser rica em frutas, verduras e
legumes. No entanto, como a maioria delas reluta em comer esses
alimentos, a nutricionista dá algumas dicas: "A mãe deve diversificar as
formas de preparo, ou também pode variar a forma de apresentação do
prato, tornando-os mais atrativos." Outra dica da nutricionista é
incentivar a criança a participar do preparo dos pratos ou também
levá-la à feira ou ao supermercado, para despertar o interesse nesses
alimentos.
Bolachas recheadas, salgadinhos industrializados e
refrigerantes em geral são inimigos da boa alimentação, devido ao alto
índice de gordura e de açúcar que esses produtos contêm. "São alimentos
muito consumidos pelas crianças e que podem levar à síndrome metabólica
e, no futuro, a problemas cardiovasculares", destaca a nutricionista.